Não querendo provocar reacções insurgentes, permitam-me que partilhe convosco outra "música do momento".
Andava há dias com uma frase na cabeça e já não sabia se era título de canção, refrão ou um desejo profundo. De facto era melodiosa aquela frase, repetia-a implausivelmente, sem ter a convicção se era para concretizar o que era pedido com essa frase ou se de facto alguém a cantou para mim alguma vez. Como não ouço rádio ( fenómeno não tão bem aceite como o de não ver televisão), este "delírio" perseguia-me sem que pudesse saber onde a tinha ouvido, ou mesmo se a havia ouvido. Tinha vergonha de chegar ao pé de alguém (ou à beira de alguém ;))e recitar repetidamente o verso que batucava na minha cabeça. Ouvia-a com violino, piano, guitarra... ouvia-a como queria. Era minha, mas havia de ser de mais alguém. Imaginava-me a entrar numa loja de roupa e a ouvir a música, correr e perguntar à vendedora qual o álbum, na esperança que fosse cd... mas se nem a um amigo perguntava, muito menos o iria fazer com uma desconhecida (o efeito impulse não serve para perguntar nomes de músicas)... não me lembrava... de nada... só que a tristeza da música é daquelas que nós procuramos e gostamos de sentir. Sabia que se algum dia me pedissem para realizar um teledisco ( facto muitíssimo provável) para a tal música da qual só sabia uma frase, o faria num dia de chuva. Através de uma janela as gotas batiam na vidraça enquanto as minhas pestanas se humedeciam e no vidro se formava um círculo de vapor... a mão deslizava e o tom de pele contrastava com o cinza do céu e com o castanho da árvore sem folhas que estava à chuva, lá fora... levantava-me da cadeira de verga e madeira encostada ao parapeito da janela e ia comer um magnum amêndoas! Era assim que "via" a música, era assim que ela me fazia sentir : confortável na tristeza. Saborosamente estranho.
Foi então que decidi ir ao baú (meu antigo computador), não em busca de pistas para o decifrar do "delírio" mas somente para encontrar o meu CV actualizado. Foi então que liguei o winamp e ele cantou para mim... Depois tive a certeza que já me tinham cantado a música, que até já ma haviam escrito e que eu já a tinha escutado. Concluí que os instrumentos que compunham a minha orquestra para esta música de facto já foram pensados e utilizados... afinal a música existe, não a inventei, não era desejo e agora sei porque me faz sentir como faz...
A outra descoberta do dia foi verificar que a música que vos falo no post anterior também estava no baú. Afinal, andava à procura do que já tinha sem saber (sem me lembrar), embora agora saiba que gosto de as ouvir porque me fazem reviver aquilo que senti da primeira vez que as ouvi... vieram ambas até mim pela mesma via e é por essa mesma via que vo-las transmito : le coeur!
O álbum onde mora esta música intitula-se "All ‘Bout Smoke ‘N Mirrors", dos Fingertips e a graça da música encontra-se em epígrafe. O Zé, vocalista, tem 14 anos e enche-me os ouvidos com as palavras que escreveu e que canta. Toca a desfrutar de mais um bom grupo português.
P.S.- A frase que cismava na minha cabeça era " don't say that is over".