Descobri que tenho um dom. Passados 25 anos, finalmente um dom. Eu já desconfiava, os meus amigos e família estavam fartos de mo dizer, mas eu não fazia caso.
Tenho um extraordinário sentido de desorientação. É magnífico assistir à minha pessoa no meio de uma praça com ou sem mapa, ou a tentar encontrar a saída do metro, ou mesmo a fazer o caminho de volta. Mais fascinante ainda é quando tento orientar-me (sempre sem sucesso). Para além do meu dom, a ajudar ao facto de me perder constantemente, está a minha difícil capacidade de armazenamento de coordenadas e indicações. Eu esforço-me. Pergunto às pessoas como se vai para determinado sítio, mas após a «1ª à direita, depois do cruzamento a 3ª à esquerda e novamente depois dos semáforos à direita» já estou a pensar qual a próxima pessoa a inquirir. Não consigo, ultrapassa-me. Não consigo estar atenta a uma explicação desta categoria. Começo logo a pensar que hei-de encontrar alguém que explique melhor e pronto, não ouvi a explicação.
Quando alguém tem o azar de ser como eu, e de me inquirir a mim porque se encontra desorientado, aí é o descalabro total. Atrapalho-me e parece que é a primeira vez que estou na zona. Tenho brancas completas. Sinto-me mal e tento ajudar, mas estou completely lost também.
É terrível, mas é um facto. Tenho um dom, que só me serve para soltar umas gargalhadas valentes.