domingo, abril 04, 2004

Sá-ba-da-ba-du no aeroporto

Parece impossível, mas este fim-de-semana lá me calhou na rifa ter de trabalhar. As coisas já andavam mal para o meu lado, mas isto de me tirarem os dias de descanso, já não acontecia desde, desde, deixa cá ver... desde Outubro! Mais impossível me parece ter de ir para o aeroporto da portela às 5H30 para esperar um convidado da reunião que estou a organizar. O avião aterrou às 6H08, mas eu só tive a certeza disso mesmo às 7H20. Nestas quase 2 horas de espera, tive de me entreter entre os bocejos e os queixumes de uma jovem de 25 anos que se lamenta da má sorte de ter de passar o resto de um sábado à noite num aeroporto (onde os cafés estão fechados).

Tudo serve para me distrair no tempo de espera: a máquina das pipocas, a senhora vestida de branco, o carrinho das limpezas todo xpto, o número de pessoas carecas, o número de crianças, quantos cinzeiros há, se o rapaz cai ou não do corrimão, de quem é que aquele está à espera, para quem serão aquelas flores, etc. Há uma máquina de flores, de fazer inveja a qualquer banca de gomas e chocolates que se preze, como se de uma máquina de kit-kats e coca-colas se tratasse. E lá andam elas à roda, à roda, até murcharem naquela arca frigorífica.

Umas pessoas chegam de cachecol, enquanto outras de t-shirt e calções. Umas vêm acompanhadas, outras sós, umas têm família à espera, outras nem amigos. E o meu convidado que não chega!

Por momentos, (que se prolongam até ao de agora), invejo as crianças que vêm sentadas em cima das bagagens nos carrinhos. Os meus Pais nunca me deixaram, nem mesmo no supermercado, nem mesmo com uma valente birra. Agora que já não tenho que lhes pedir, não caibo nos carrinhos. Assim não vale.

Como desejei que o posto de turismo estivesse aberto e com ele os vouchers a saltitar até ao meu convidado. Era o ideal para me libertar daquela prisão e poder vir para casa descansar.

Com o facto de trabalhar nos dias em que os que gosto estão de folga e eu não posso estar com eles, fico mais sensível e o abraço faz-me ficar nostálgica. Como não tenho saudades de quem espero, penso nas saudades que tenho de quem não vem. Começo a emocionar-me. Só pode ser do cansaço. Apetece-me continuar com estes pensamentos, com esta sensação, mas tenho de a interromper: o convidado dirige-se até mim, pois leu o papel que eu segurava com o seu nome. Foi um momento. Não nos abraçámos, em vez disso demos um passou-bem, mas senti como se tivesse reencontrado alguém especial, embora nunca o tivesse visto. Sensação esquisita, mas julgo que ele sentiu o mesmo. É bom ser esperado, é bom estar à espera para ver o quão bom é para o outro a sensação de ser esperado. Bem simpático, o meu convidado, tal como nos faxes, mails e ao telefone.

Já cá fora junto dos mercedes beiges, a noite dá lugar ao dia, mas nem assim o preço do táxi baixa. A antipatia é total, a recusa de transporte somente porque um trolley não me acompanha, é imediata. Neste país de saudade e flores, há muita antipatia e falta de chá. Para mim, de momento, há muito sono, e vontade de sonhar...

Ainda bem que já é domingo. Pena é fazer sol e eu ter de fingir que vou contar estrelas.