É possível acreditar que nos conhecemos. Mais possível é confrontarmo-nos imediatamente com o desmentido real dessa crença, tão somente porque o nosso mundo, que construímos com o pensamento, rui a cada instante. Cada segundo pode ser contraditório daquele que o antecedeu, e a maior parte das vezes, aquilo que nos acontece, não era o que prevíamos, e muito menos o que havíamos pensado.
Vazio. Sinto um vazio enorme, como que se cada respirar levasse até ao meu coração o eco da dor que já não sinto. É eco, tão somente eco. Vivi a pensar que de som em directo se tratava, que de emoções provinha, mas não. Enganei-me. Insistia em ouvir o eco daquilo que fui, foste, vivi e senti. Hoje, embora haja vazio, não escuto o eco, pois a dor evaporou. Anseio o momento em que a saturação seja encontrada e chova em mim um mar de emoções, para que depois um rio se forme, e tudo desagúe bem longe de mim, e que ao contrário da água, aqui não haja ciclo, para que exista um fim e eu não tenha de recomeçar tudo de novo. Queria chorar, mas nem ameaça de esvaziar o saco lacrimal sinto. Queria que fosse diferente, mas nunca foi, nunca deixei de querer que fosse diferente, e sempre o é. Já não te tenho como motor capaz de aumentar a pressão sanguínea que me irrigava as bochechas e me fazia sorrir a tremer. Sinto falta do arrepio, do claudicar. Melhor, senti falta. Nunca quis este momento, mas sempre esperei por ele e a essa espera associei o que deveria sentir. Não foi nada assim. Vazio. Não te tenho dentro de mim, pelo menos já não és tu. São recordações, lembranças, mas essas são nossas, já não és tu.
E agora? O que faço? Estou perdida dentro de mim. Sempre que por aqui caminhava encontrava-te e parava, perguntava-te o caminho. Nunca respondias, mas eu sentia um conforto em te ter aqui, dentro de mim, como se isso bastasse. Já não estás. Eu achava que não sabia viver contigo dentro de mim, o que eu não sabia era que assim já vivia e que tenho é de aprender a viver contigo fora de mim, pois é fora que tu estás. E para fora, só os olhos escutam, falam e vêem.
O coração encontrou no desencontro um novo pulsar.